quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As Artes da Cor




O Gothic não somente vem das músicas e dos grandes teatros, não vem também somente de arquiteturas cemiteriais e outras, mas como também vem da pintura e escultura.
O Gótico teve uma grande influencia nas pinturas que chamamos de "As Artes da Cor".

O conceito de pintura gótica não só se utiliza para designar a pintura mural ou sobre tábua, mas também para a pintura que ilustra um grande número de livros manuscritos e para a realizada sobre o vidro que cobria as amplas janelas dos edifícios góticos.
De um modo geral, produção pictórica, substitui o termo "pintura gótica" por outro mais amplo e menos confuso como o de "artes da cor".
As artes da cor góticas foram realizadas nos reinos ocidentais europeus ao dos séculos XIII, XIV e XV. (13, 14 e 15).
O gótico foi assumido nas artes pictóricas ou da cor mais tarde do que na arquitetura ou escultura monumental, já que, em certas zonas realizaram-se arquiteturas e esculturas góticas desde meados do século XII (12). Embora as artes pictóricas se tenham estendido a alguns reinos, desde o princípio do século XIII (13), podemos encontrar obras arcaizantes¹ com restos românticos em algumas regiões da Europa depois da referida data, durante grande parte do século XIII (13).

Enquanto no século XV (15) numa boa parte da Europa ocidental e nórdica se realizava a pintura do Gótico Internacional ou de ascendência flamenga. Eliminando a Itália renascentista, o século XV (15) deve ser considerado no resto da Europa ocidental como um dos momentos mais interessantes da Idade Média e da pintura gótica.
A pintura gótica não se pode definir de maneira uniforme, mas sim em função de cada um dos modelos pictóricos usados.

Quanto à escultura, neste texto só se fará uma breve referência à isenta², ou seja, à que não é aplicada diretamente aos elementos arquitetônicos construtivos. Neste grupo inclui-se tanto a escultura de vulto redondo, que se pode exemplificar com as imagens de culto dedicadas a diversas personagens sagradas, como os relevos aplicados nos sepulcros. aos dípticos ou  ou trópicos de marfim destinados ao culto particular;  ao mobiliário litúrgico como os púlpitos ou as pias batismais, etc.
A cronologia deste tipo escultórico coincide com a indicada para a pintura gótica, ou seja, os séculos XIII, XIV e XV. (13, 14 e 15), embora não se possa falar de escultura gótica, mas sim de escultura renascentista.


Veja em nosso próximo post sobre Miniatura e Pintura.





¹Arcaizantes: Que torna arcaico. Arcaico: Velho, antigo. (Adj: Antiquado).

² adj. Que não está sujeito a um dever ou obrigação; dispensado, livre: isento do serviço militar.
Desprovido: isento de erros.

domingo, 9 de setembro de 2012

Réquiem


Réquiem

Na liturgia cristã, o réquiem é uma espécie de prece ou missa especialmente composta para um funeral. Na música, por sua vez, o termo faz referência às composições feitas sobre os textos litúrgicos relatados na primeira acepção, muito embora haja ainda referências ocasionais a outras composições musicais em honra aos mortos. Os réquiem mais famosos foram compostos por Mozart, Brahms, Berlioz e Verdi.

O termo foi retirado da expressão requiem aeternam dona eis, que significa "dai-lhes o repouso eterno".

Fonte: Wikipédia



Réquiem music: http://www.youtube.com/watch?v=QhJqZ9amguU&feature=relmfu

Réquiem - Por: Perpetus


Réquiem - Por: Perpetus

O réquiem é bastante apreciado pelos góticos devido a ser uma música para os mortos, uma missa, uma oração. Normalmente os réquiem são mórbidos, sons tocados a base de Órgão ou Piano e seu arranjo vocal acompanha-se com um lírico e líricos angelicais.
Este gênero pode ser muito bem encaixado com a apreciação de arquiteturas cemiteriais, devido a dedicação aos mortos.
Vinho, cemitério, amigos e réquiem em uma noite estrelada pode ser a vida perfeita para um gótico.

sábado, 1 de setembro de 2012

Música




A música pode ser classificada como o principal veículo de divulgação no que se refere à Cultura Obscura. É, geralmente, através dela que ocorre a identificação com a própria personalidade, tornando-se um portal que conduz à outras manifestações artísticas obscuras.

Não há características precisas ou pré-estabelecidas nas expressões artísticas da Cultura Obscura e, conseqüentemente, entre seus apreciadores. Mas há diversos pontos comuns. Portanto, podemos aplicar esse conceito, de aparente disparidade, à música quando relacionada à Cultura Obscura.

As bandas que emergiram no início da década de 80, no período classificado como pós-punk, e atualmente são classificadas genericamente de góticas, também são apreciadas na Cultura Obscura. A banda inglesa Joy Division é um bom exemplo. A atmosfera soturna de suas canções e o suicídio do vocalista Ian Curtis, atribuíram um caráter mítico à banda. Porém, a subdivisão do Metal surgida em meados da década de 90 é um dos estilos mais conceituados na Cultura Obscura.

O Gothic Metal, nome dado genericamente ao estilo que combina Metal e Neo-Clássico, traz em letras e arranjos uma boa parte dos temas abordados na Cultura Obscura: alusão a obras literárias e mitologia, trechos em latim e arcaísmos, entre outros aspectos. Há também o uso de orquestras e vozes sopranos entrelaçadas com as características vocalizações urradas e guitarras do Metal. Mesmo havendo um conceito de que o estilo e até mesmo a expressão Gothic Metal tenham sido criadas com objetivos exclusivamente comerciais, a qualidade e ousadia do Gothic Metal prevalecem sobre os argumentos.

Além do Gothic Metal e de outras variações do Metal (como o Doom e o Black), outros estilos também são amplamente consumidos entre os adeptos da Cultura Obscura, como por exemplo música medieval e renascentista, e referências de compositores clássicos e neo-clássicos. Ainda, estilos mais suaves como New Age, Dark Atmospheric (ou Dark Ambient) e Ethereal.

Neste caso, a sonoridade também é composta por elementos de música erudita, como o canto lírico, que se somam a timbres eletrônicos e acústicos. Mas, diferentemente do Metal, traz uma sonoridade sutil que almeja atingir diretamente a alma.

Porém, se desconsiderarmos os rótulos que são criados e aplicados ao longo do tempo, irão sobressair a qualidade e sofisticação da música absorvida, cultuada pela Cultura Obscura. Independentemente dos estilos, o fator mais significativo é a identificação que há entre o que se ouve e o que se sente.

Literatura


Mesmo sendo caracterizada por valores individuais, a Cultura Obscura abriga diversas manifestações artísticas comuns a outras culturas. A Literatura é uma das expressões mais utilizadas. É através da composição poética, por exemplo, que se confrontam os temores e se revelam os mais profundos sentimentos e desejos da alma. É, também na literatura, que se encontra uma definição estética e ideológica sobre os vários aspectos que compõem a cultura obscura.

Mais precisamente, podemos citar o Romantismo como a principal referência da Cultura Obscura. Surgido no final do século XVIII, como uma reação aos ideais Iluministas, o Romantismo traz como principais características a potencialização das emoções. Além do individualismo e subjetivismo desenvolvidos a partir da liberdade criativa. O Romantismo Literário, que evocava a Idade Média sob uma perspectiva idealizada e positivista em seus temas, é uma das bases da Literatura, quando relacionada à Cultura Obscura.

Já o autor inglês Horace Walpole abordou a Idade Média diferentemente da "idealização medieval positivista" de outros românticos. O fez sob uma perspectiva soturna, com ambientações em castelos e ruínas que atribuíam um clima de mistério e terror sobrenatural. Sua obra, O Castelo de Otranto, de 1764, é considerada a precursora do que viria a ser classificado como Gothic Novel. No Brasil, conhecido como Romance Gótico ou Literatura Gótica. Neste caso, o termo "Gothic" é aplicado como sinônimo de obscuro ou medieval.

No Brasil, o Romantismo iniciou-se "oficialmente" em 1836, com a obra de Gonçalves de Magalhães, Suspiros poéticos e saudades. Dentre as três gerações românticas brasileiras, o Ultra-romantismo é que tem maior expressividade na Cultura Obscura.

Influenciado diretamente pela Gothic Novel, o ultra-romantismo teve como principais características a evasão, tédio, morbidez, subjetivismo, saudosismo, predileção pelo noturno e a forma e composição livre dos versos. O escritor paulista Álvares de Azevedo, ávido leitor de Byron, surgiu como poeta e contista no ano de 1848 e é considerado um dos maiores autores ultra-românticos do país. Além dele, outros nomes como Casimiro de Abreu, Bernardo Guimarães, Junqueira Freire, entre outros, destacam-se como grandes expoentes do ultra-romantismo, que também ficou conhecido pejorativamente, como mal-do-século.

Autores como Allan Poe, Lord Byron, Lovecraft, Baudelaire e Álvares de Azevedo são amplamente consumidos entre os apreciadores da Cultura Obscura. Assim, mesmo havendo um conceito de que, geralmente, a Literatura Gótica é baseada na prosa, enquanto o ultra-romantismo está fundamentado na poesia, a cultura obscura é suficientemente ampla para abrigar ambos estilos de composição, e ainda absorver outros gêneros que possam refletir sua alma e personalidade.

Cultura Obscura

O espírito romântico do século XXI



Introdução
Na ausência de uma classificação mais precisa, foi denominada Cultura Obscura, o conjunto de elementos que caracterizam o grupo de indivíduos que surgiu nas metrópoles brasileiras, em meados da década de 90 e está se consolidando nestes primeiros anos do século XXI. Suas principais características, tanto comportamentais quanto artísticas, podem ser associadas ao movimento Romântico europeu do século XVIII, mas ainda assim, ficou sendo considerada por muitos, uma ramificação da subcultura gótica/darkwave.
Não é possível determinar um ponto de partida específico para o surgimento da cultura obscura. Porém, por cultivarem algumas referências artísticas comuns, é provável que seja um subproduto, mas não uma evolução, da subcultura gótica. Neste caso, a cultura obscura une e intensifica os elementos românticos encontrados na subcultura gótica, consolidando-se como uma manifestação distante de sua possível origem.
Apesar do termo gótico estar relacionado à subcultura gótica/darkwave, também é amplamente usado para classificar os adeptos da cultura obscura. Neste caso, o termo gótico é utilizado em sentido parecido ao do termo Literatura Gótica, ou seja, como sinônimo de obscuro ou medieval, sendo estas, características muito presentes na cultura obscura.
Ainda, o termo Goticismo (do inglês Gothicism), que originalmente refere-se apenas à Literatura Gótica, também é utilizado, de forma equivocada, como uma "variação" da expressão cultura obscura. Apenas nesta situação, goticismo abrange o comportamento, arte e "filosofia" da cultura obscura.
A expressão "nascer gótico" (gótico neste caso relativo à cultura obscura) é comumente usada entre os adeptos da cultura obscura e interpretada de forma equivocada por outros. Obviamente, não é possível compreender esta expressão em sua forma literal. Isto porque não é possível "nascer já sendo alguma coisa"; ou seja, ninguém nasce com uma doutrina, ideologia, ou religião pré-estabelecidas, por exemplo. Neste caso, a expressão "nascer gótico" significa que, ao longo da vida, de forma indireta e natural, uma pessoa cultivou em sua própria personalidade, valores que se identificaram e se associaram às principais características da cultura obscura. Portanto, não houve uma mudança repentina e intencional para "virar gótico". Neste caso, o que ocorre, é um processo natural de conhecimento e identificação.
Características Gerais
Apesar de ser considerada por muitos, uma tribo urbana, a cultura obscura não se caracteriza necessariamente pela coletividade, mas principalmente pela individualidade. Uma vez que se aborda personalidades e comportamentos que tendem a encontrar expressões artísticas comuns.
Desse modo, não há um conjunto específico de influências, regras ou doutrinas pré-estabelecidas. Porém, alguns pontos podem sugerir um "contramovimento social". Por exemplo, há na sociedade, de um modo geral, uma busca intensa pelo mercantilismo, a indução selvagem ao status e a exploração da arte pelo consumismo. A cultura obscura contraria essas tendências, contrapõe-se aos rótulos e modismos, choca-se com ideais consolidados e valoriza, sobretudo, a arte e a expressão individual.
Para que algumas de suas principais características tornem-se mais nítidas, pode-se associá-las ao Romantismo Literário. Não apenas no aspecto artístico, mas principalmente, na questão comportamental. É este romantismo, reacionário ao iluminismo e ponto de partida da subcultura gótica, responsável pelas bases obscuras desta cultura. A superestimação do ego e, conseqüentemente, dos próprios sentimentos que, exteriorizados, formam uma realidade idealizada do mundo. A evasão, que consiste numa fuga psicológica da realidade, é responsável pela supervalorização do passado, seja individual ou histórico, como no saudosismo. Assim, percebe-se com nitidez a intersecção entre Romantismo e Cultura Obscura.
Entre seus adeptos, podemos encontrar um constante interesse pela cultura, valorização e contemplação de diversas manifestações artísticas; perspectiva poética e subjetiva sobre a própria existência; visão positiva sobre solidão; melancolia e tristeza; introspecção e medievalismo; etc. A soma destas características compõe uma cultura de atmosfera sombria, romântica e poética. Mas, geralmente, é vista pela sociedade, de forma preconceituosa, como uma manifestação depressiva e negativa.
A Literatura, além de ser uma das manifestações artísticas mais consumidas e produzidas na cultura obscura, fornece uma definição estética e ideológica bem próxima dos elementos que a compõem. Compor um poema, por exemplo, é uma forma de penetrar no próprio âmago, conhecer a si próprio, confrontar os temores e revelar os mais profundos sentimentos.
Mais uma vez, o romantismo faz-se presente; especialmente o ultra-romantismo ou "mal-do-século". Não apenas por suas obras, mas principalmente por suas características: subjetivismo, saudosismo, predileção pelo noturno e pelo sobrenatural, por exemplo. Obras de autores como Allan Poe, Lord Byron, Lovecraft e Álvares de Azevedo são amplamente absorvidas.
A música pode ser classificada como o principal veículo de divulgação no que se refere à Cultura Obscura. Mas, como em outras expressões, não é possível traçar uma linha nítida relacionada à estilos ou artistas específicos.
As bandas que surgiram no início da década de 80, no período conhecido como pós-punk, e atualmente são classificadas genericamente de góticas, também são apreciadas; como o Joy Division, por exemplo.
O Gothic Metal, nome dado genericamente ao estilo que combina Metal e Neoclássico, traz em letras e arranjos uma boa parte dos temas abordados: alusão à obras literárias e mitologia, citações em latim e arcaísmos, entre outros elementos.
Porém, a cultura obscura ainda abriga outros estilos e referências musicais. Por exemplo, música medieval e renascentista, e compositores clássicos e neo-clássicos. Ainda, estilos mais suaves como New Age, Dark Atmospheric (ou Dark Ambient) e Ethereal.
Na cultura obscura não há uma religião ou doutrina espiritual a ser seguida. Mas há um grande interesse por religiões do período pré-cristão, por diversas correntes e doutrinas esotéricas e pela própria espiritualidade. Este interesse é, sem dúvidas, fruto de um desejo de autoconhecimento e de elevação espiritual próprios de seus adeptos.
Nas plásticas e na estética, as emoções são figuradas e personificadas. Anjos e demônios convivem como nas ilustrações de William Blake, o terror pode ser encontrado em Nosferatu, do expressionismo alemão. Vê-se ironia e macabrismo no cinema de Tim Burton. Assim como sombras urbanas emergem na lendária Gotham City. Castelos e catedrais, gárgulas e quimeras coexistem na Arte Digital. Definições e exemplos tão distantes que se tornam próximos e coerentes a olhos intensos e românticos. A combinação de certos elementos compõe uma obra, um ambiente ou uma paisagem, impregnada de lirismo obscuro, como na melancolia decadente de um cemitério ou na grandeza de uma catedral.
Diversas expressões artísticas de culturas e épocas distintas encontram-se na cultura obscura: do romantismo ao modernismo; da prosa à poesia; do sacro ao profano... Uma cultura que não necessita de regras, apenas de identidade; que não pode ser sintetizada em algumas palavras; mas que é ampla e democrática para abrigar elementos tão distantes e incluí-los sob uma mesma perspectiva.

Por: Spectrum

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Filosofia e Escultura na Idade Média - Parte IV de IV


O gótico flamejante e o Nominalismo



No século XIII a escolástica decai e o nominalismo de Guilherme de Ockham – negador de todo universal e defensor da tese de que só existe o indivíduo – introduz o experimentalismo na ciência, o individualismo na sociedade, e prepara com isso o livre exame luterano e todo o cientificismo moderno. Ockham foi um dos responsáveis pela destruição da Cristandade.
Também na arte, como não podia deixar de ser, o nominalismo ockhamista produziu efeitos péssimos. O estilo que corresponde às teses ockhamistas é os góticos flamejantes ou góticos da decadência, que vigorou nos séculos XIV e XV. Se só existe o indivíduo, e se a matéria é a causa da individuação, tinha-se que destacar o corpo e não a alma, a matéria e não o espírito.
O individualismo nominalista tem como resultado o triunfo do retrato na escultura. Já não se fizeram mais representações de conceitos universais, nem isolados, nem "encarnados" em indivíduos concretos. Faziam-se retratos o quanto mais realistas possível. Se a pessoa a ser representada tinha rugas, na estátua tinham que figurar as suas rugas. Se seu queixo era exageradamente pontudo, o escultor primava em fazê-lo tal qual era. Assim, apareceram retratos brutais ou ridículos. O mercantilismo e o desenvolvimento do comércio e da urbanização deram grande progresso político e econômico para a burguesia, assim como favoreceram o absolu- tismo e o crescimento do papel do Estado.
Isso tudo, junto com o individualismo nominalista, impulsionaram a vaidade. Pessoas ricas, nobres ou burgueses, quando faziam doação de dinheiro para a construção de um altar em uma igreja, exigiam serem retratados, "piedosa" e um tanto vaidosamente ajoelhados aos pés dos altares que haviam financiado. A preocu- pação com o real não recuou nem na representação do prosaico e até do obsceno.
O flamejante se caracteriza pelo triunfo da curva e da contra curva, que vai produzir linhas sinuosas que parecem as de labaredas. A contra curva é introduzida nas ogivas, nos arcos, e reina nas esculturas. Isto vai se casar com a preocupação absoluta de representação do real, e para eles o real era o corpo: a curva permitia a representação fiel dos movimentos dos corpos e dos rostos.
A estátua flamejante é sempre extremamente emotiva, e suas emoções são sempre violentas: ou pranto ou gargalhada, ou terror ou prazer. Os rostos flamejantes já não têm paz. O gosto pela curva e pela contra curva faz os escultores se preocuparem em esculpir figuras com cabeleiras e barbas enormes e caracolantes. O Moisés de Claus Sluter no poço da Abadia de Champmoll em Dijon é exemplo típico disso.




O drapejamento também passa a ser riquíssimo. E, para que as roupagens tenham curvas e contra curvas, elas são esculpidas como se estivessem agitadas por um vento impetuoso. Ao mesmo tempo que se agitam, riem ou choram, as esculturas flamejantes perdem estatura. O módulo flamejante diminui. As esculturas, em geral, passam a ter tamanho menor. Normalmente prefere-se esculpir cenas e não mais pessoas isoladas. Exceção são os retratos de doadores, dos quais já falamos, e cuja "piedade" exigia figuras, se possível, em tamanho natural.
O caráter violentamente emotivo da escul- tura flamejante surge claramente nas figuras sepulcrais. O século XIV viu a Europa ser atingi- da por uma das mais terríveis epidemias que houve na História: a peste negra. Esse flagelo dizimou a população européia no longo período em que grassou pelo continente. Calcula-se que tenha morrido mais da metade da população. As mortes eram bruscas e a enfermidade durava pouco. Foi esse pânico que suscitou toda uma série de expressões artísticas. Na música, surgiram as canções terríveis, como os cantos da Sibila e as danças da morte. A conhecida seqüência Dies Irae é desse tempo.
Na escultura, desenvolveu-se uma arte tumular de caráter mórbido, na qual os mortos eram retratados em estado de decomposição, devorados pelos vermes. Eram figuras desesperadas ante o mistério da morte. Como eram diversas as figuras tumulares na época do gótico primitivo e do radiante! No início da arte gótica e em seu apogeu, as figuras postas jazentes sobre os túmulos - os gisants – revelavam uma grande serenidade em sua tristeza calma.
Com efeito, ante a morte a atitude equilibrada não consiste em estóica indiferença, nem em desespero. A morte é contrária à nossa natureza e a ela repugna. É impossível não encará-la como trágica. Mas, por outro lado, a redenção de Cristo nos salvou da morte eterna. Por isso, os gisants das primeiras fases do gótico eram tristes com esperança. E a esperança da vida eterna punha nas figuras esculpidas sobre os túmulos uma triste, mas serena paz.
Os gisants do flamejante são desesperados. Esse desespero era resultante da perda da Fé, já que o nominalismo, no fundo, era materialista. Assim, se passou da beleza sublime obtida na arte como reflexo da Fé e da sabedoria escolástica para o desespero resultante do materialismo. Quando se busca antes de tudo o Reino de Deus e sua justiça, tudo se alcança por acréscimo. Até mesmo a beleza artística. É o que comprova a escultura na Idade Média, um dos elevados cumes da arte na História.

Texto original de Orlando Fedeli - Associação Cultural Montfort