sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Filosofia e Escultura na Idade Média - Parte Ide IV


A arte da escultura atingiu um de seus ápices na Idade Média. Até o século X, essa arte foi pouco praticada. Quando, porém, se começou a praticá-la, logo se conseguiu um progresso muito rápido. Em pouco tempo os escultores adquiriram uma grande técnica, tornando-se capazes de realizar obras de arte de nível tão elevado que poucas vezes foi igualado na História.
Na arte gótica distinguem-se três grandes períodos ou fases:

  • Gótico Primitivo, no século XII;
  • Gótico Radiante, no século XIII;
  • Gótico Flamejante, nos séculos XIII e XIV.

É bem sabido que todo estilo artístico tem profunda relação com a filosofia de seu tempo. Pode-se definir um estilo como a expressão de uma filosofia por meio de símbolos. Sendo assim, as fases do estilo Gótico exprimem por meio de seus símbolos a filosofia aceita em seu tempo. Então, a escultura Gótica Primitiva deve exprimir os conceitos da filosofia platônica e neo-platônica em vigor, em seu tempo. A escultura do Gótico Radiante exprime as idéias do aristotélico-tomismo, enquanto a escultura Gótica Flamejante retrata a filosofia nominalista de Ockham.
Tomemos um ponto característico desses diversos sistemas filosóficos – a questão dos univer- sais – e vejamos como ela se refletiu na escultura desses períodos. A questão dos universais atormentou os filósofos desde a Grécia antiga.

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Chamam-se universais os termos que designam todos os seres de determinada espécie. Assim, o termo boi designa todos os bois que possam existir, qualquer que seja sua raça e características. A questão é: o universal existe? Como existe? Onde? Para resolvê-la, três soluções principais foram aventadas: a do platonismo, a do aristotélico-tomismo e a do nominalismo de Guilherme de Ockham.
A solução platônica afirmava que o universal existe realmente no mundo das idéias. Existiriam, em um mundo ideal, desprovidas totalmente de matéria, as puras idéias. Lá existiriam o boi ideal, a rosa ideal, o homem ideal, etc. Esse mundo das idéias, segundo Platão, seria um mundo puramente espiritual, perfeito e divino. É a solução denominada realista, porque considera o universal realmente existente. Essa posição conduz rapidamente à gnose, porque é negadora da bondade da matéria.
Oposta a ela, per diametrum, é a solução proposta por Ockham. Segundo esse filósofo franciscano e fraticello, o universal seria apenas um nome, sem nenhuma existência, de qualquer forma que seja. Daí sua filosofia chamar-se nominalismo. Para Ockham só existiria o indivíduo, e o conhecimento como a ciência seriam apenas dos seres singulares. Em conseqüência, o conhecimento só poderia ser experimental e nunca teórico. Sendo a matéria a causa da individuação, o nominalismo de Ockham devia necessariamente conduzir a humanidade para o experimentalismo, para o existencialismo e para o materialismo modernos, isto é, para várias formas de panteísmo. Pois nele se dá uma divinização da matéria, com desprezo ou negação do espírito, da forma substancial e da essência.
Para resolver a questão dos universais, o aristotélico-tomismo deu uma solução que se situa a meio caminho entre o realismo do platonismo e o nominalismo de Ockham. Segundo São Tomás, o universal existe na mente humana, enquanto idéia, e nos seres concretos, enquanto forma substancial. E seria isso exatamente o que nos permite reconhecer os seres como indivíduos de uma espécie. Na solução tomista não se despreza nem o espírito, nem a matéria; nem a forma, nem a matéria; nem a alma, nem o corpo. Essas três soluções do problema dos universais foram sucessivamente adotadas no decorrer da Idade Média, causando conseqüências nas características da escultura de cada período.

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